terça-feira, 30 de agosto de 2011

A igualdade de gênero no cinema.



Que a mulher recebe tratamento desigual, todos nós já sabemos. A questão é como tal situação é enfrentada. Alguns filmes da bem recebida produção brasileira do cinema abordam a questão de uma forma muito interessante.

Em "O Vestido" (Brasil, 2004), de Paulo Thiago , Gabriela Duarte vive uma mulher que busca vivenciar um desejo intenso numa época e numa Minas Gerais conservadora. O filme que tem boas atuações de Ana Beatriz Nogueira, apresenta uma discussão muito interessante sobre como a mulher vive seus papéis de mãe, mulher e amante. 

"Vida de Menina" (Brasil, 2004), de Helena Solberg, a formação da mulher é abordada de uma maneira delicada. Ao retratar na época da proclamação da república, a forma como a mulher era representada na sociedade, apresenta uma discussão onde a alegria de viver da personagem enfrenta a hipocrisia das falsas virtudes das mulheres da época.

A questão social e econômica da mulher é apresentada na  produção de Rude Lagemann. Na produção "Anjos do Sol" (Brasil,2006), o problema da prostituição infantil é tratado com muita objetividade e verdade. As mulheres são leiloadas desde pequenas. As redes de prostituição funcionam como famílias ilegais de acolhimento contra o abandono do Estado, da Família, da Escola e da Religião.

Outro fator importante na economia brasileira é discutido em "O céu de Suely"  (Brasil, França e Alemanha, 2006). Ao ser deixada de lado, com um filho numa cidade perdida do interior do Nordeste, Suely resolve ela, mulher, rifar seu corpo, leiloar sua esperança. A situação inusitada e diferente da moral vigente, coloca como possibilidade a instrumentalização do desejo diante dos projetos e sonhos das mulheres. O problema do filme, construído numa narrativa naturalista e uma ótima interpretação de Hermila Guedes (Força Tarefa) e João Miguel (Cordel Encantado) é apresentar mulheres que comandam seus destinos, apesar dos meios para sobreviver ao risco de virar objeto.

Mas o destaque deste ensaio vai para "Nome Próprio" (Brasil, 2006). Nele, uma interpretação magistral de Leandra Leal apresenta uma mulher que resolve viver sua descoberta, encarando o desafio de escrever sobre si própria, sobre o fracasso de seus relacionamentos. É uma bandeira a favor do movimento bloguista, pois as narrativas são trabalhadas na linguagem e nos ambientes das redes sociais. Tal movimento revela que a mulher está encontrando outros universos paralelos para serem, além da sexualidade, das convenções da família e dos papeis esperados.

Filmes com leituras de gênero servem para ampliar nossa capacidade crítica para compreender porque diferenças sexuais e corporais são transformadas em justificativas para a implantação da desigualdade social. Gênero é uma construção cultural acerca das identidades que acompanham homens e mulheres. A sexualidade e o gênero são maiores que o sexo e o fenótipo. Indicam uma educação, um processo de socialização que cria e incentiva padrões de comportamento que fazem valer a supremacia do patriarcado, no caso dos filmes analisados. Contra o controle, da submissão, a poesia, a corporalidade se levantam para enfrentar as tradições e os pensamentos conservadores.

A melhor forma de compreender a questão do gênero e também de todas as outras diferenças é ser capaz de se colocar do lado de quem recebe o tratamento social diferenciado. 

O que você acha disso? Qual sua leitura da desigualdade social que existe entre os papeis femininos e masculinos?  Que caminho a mulher contemporânea está trilhando, o dos desejos, o da razão, o da sexualidade, o da política? 

Participe da 7a edição do Prêmio Igualdade de Gênero do cnpq.